
Há momentos na vida em que, sem perceber, deixamos de lado coisas que antes eram parte de nós; habilidades ou talentos que nos completavam e reafirmavam nossa identidade. E quando nos damos conta, o tempo passou, e aquilo que fazia parte do nosso tempo bom, ficou esquecido na gaveta. Para mim, esse “esquecimento” aconteceu com o desenho.
Será que você não deixou algo esquecido, levado pelos acontecimentos, talvez você tenha colocado na gaveta do esquecimento a sua habilidade que o identificava. Na escola, eu já fui conhecido como o desenhista da sala.
O estojo do Seiya e o início de tudo
Não lembro, exatamente, quando comecei a desenhar, mas recentemente me veio essa dúvida “quando comecei a me interessar pelo desenho? Quando iniciei os rabiscos no caderno da escola, tentando desenhar meus personagens favoritos?”. Perguntei de alguém que com certeza saberia a resposta, minha mãe. Ela disse que eu já fazia desenhos desde muito pequeno. No entanto, minha primeira lembrança nítida, sobre desenho, sempre me leva a um momento específico: quando ganhei um estojo escolar do Seiya de Pégasus, dos Cavaleiros do Zodíaco.
Eu devia ter por volta dos 11 (onze) anos de idade, talvez estivesse na 5ª série. A sensação ao receber aquele estojo foi indescritível. Não éramos ricos, e eu nunca achei que teria algo assim. Porém, minha mãe costumava fazer pedidos, ela comprava algumas coisas de uma vizinha que vendia por catálogo, e foi assim que ele veio parar em minhas mãos. Fiquei empolgado, curioso e já com planos de desenhar o seyia no caderno.
Os primeiros traços
O que me fascinava tanto em Cavaleiros do Zodíaco? Talvez fosse a coragem dos personagens, a amizade que os fortalecia e a determinação de lutar pelos seus objetivos. Ou talvez fossem as armaduras brilhantes, as lutas épicas e os poderes incríveis. A abertura do anime também era um show à parte! Era muito comum, esperar pelo sinal de término das aulas da tarde e correr o mais rápido possível para chegar a tempo de assistir o episódio, antes que terminasse.
Depois de ganhar esse estojo do seyia de Pegasus, esta é a memória que me faz lembrar da época em que mais desenhava, quando criança. Mas o resultado… bom, as mãos pareciam de monstros, os rostos ficavam desfigurados, e o traço era bem longe do que eu queria. Mesmo assim, continuei tentando. Outros personagens que me inspiravam eram os de animes como Shurato, Yu Yu Hakusho, Dragon Ball e Samurai Warriors e muitos outros.
Minha família sempre via meus desenhos. Eu chegava a colocar alguns na parede do meu quarto, e, conforme fui melhorando, passei a receber muitos elogios. Mas, infelizmente, aquele começo cheio de entusiasmo não duraria para sempre.
O momento em que o desenho ficou na gaveta
Tudo mudou quando meus pais se separaram. Foi um período de muitas transformações: mudei de escola, de cidade e de rotina. O desenho foi ficando para trás, pouco a pouco, sem que eu percebesse. Não foi uma decisão consciente. Simplesmente aconteceu.
Deixei de desenhar e nem notei
O tempo passou, e o desenho, que antes era algo tão presente na minha vida, virou um hobby ocasional. Fazia alguns rabiscos na escola, mas nada comparado ao tempo que dedicava antes. Foi um afastamento silencioso, e por isso nem cheguei a sentir falta no momento, pois eu nem tinha percebido.
O reencontro com o desenho e a cura
O desenho voltou para minha vida em 2020, já adulto, casado e pai. Antes da explosão da Pandemia da Covid-19. Eu já estava diagnosticado com transtorno de ansiedade generalizada e síndrome de burnout, me afastei do trabalho e fui cuidar da minha saúde; nesse quadro, minha esposa me lembrou de algo muito importante que eu gostava de fazer: Desenhar e isso poderia me ajudar; ter o desenho como terapia.
Foi assim que, depois de anos, peguei um lápis novamente. Retirei da gaveta a habilidade esquecida, o refúgio da infância; a promessa de cura para o futuro.
E dessa vez, desenhar não era apenas sobre traços no papel. Era sobre me reencontrar, me expressar e aliviar a exaustão e ansiedade. O desenho virou terapia, uma forma de me conectar comigo mesmo, novamente; para retomar a vida.
E você? Também deixou o desenho na gaveta?
Talvez você tenha uma história parecida com a minha. Talvez também tenha parado de desenhar sem perceber. A vida, o trabalho, as responsabilidades… tudo isso pode nos afastar das coisas que amamos. Mas a boa notícia é que sempre podemos voltar.
Se você já desenhou um dia e deixou isso para trás, que tal resgatar esse talento? Desenhar pode ser um hobby, uma fonte de renda ou simplesmente uma terapia para a mente e a alma.
Agora eu quero saber: você tem uma história parecida? Quando foi que parou de desenhar? O que te fez voltar (ou o que te impede de voltar)?
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